15/01/09

o gelo em portugal


Depois do espanto do primeiro momento, o dia começa a escrever-se na neve: a limpeza das estradas e ruas principais, as marcas dos carros nas ruas, as pegadas de quem passa, a mão que afastou a neve deste vidro, daquele parapeito. Depois a neve que na berma de um passeio começa a derreter mais parecendo gelo húmido, ou a que amolece a cai dos ramos das arvores, dos telhados, e a mais traiçoeira que à força de ser calcada e pisada pelos pneus se converte em gelo seco e liso pronto para fazer escorregar quem passa e ousa pisá-lo.

Estes dias de frio dão-me nostalgia de outros Invernos diferentes dos nossos. De Invernos em que não se sai à rua sem luvas nem cachecol, e em que os chapéus e gorros são uma necessidade. Invernos em que o sol nunca consegue aquecer, só iluminar. Invernos em que de manhã se tira inevitavelmente a película mais ou menos dura de geada ou gelo do pára-brisas do carro. Invernos em que a noite começa a cair às três e meia da tarde, em que o cinzento é a cor dominante e as lâmpadas eléctricas dos espaços interiores estão todo o dia acesas porque do exterior só vem escuro. Mas a grande nostalgia é a do encanto mágico e silencioso que se avista da janela quando uma manhã ao abrir a cortina se percebe que nevou toda a noite. Muita, muita neve, fresca, branca, espessa, imaculada a cobrir tudo. Nunca nos habituamos ao silêncio da neve que cai.

REPORTER:ANDRE-LOPES
6D Nº3

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